#79 | As 70 músicas favoritas de 2024
Uma paixão que se renova a cada ano, apesar de despertada por muitos prediletos de quase sempre
Desde sei lá quando, faço uma lista das minhas músicas do ano. Em 2024, resolvi trapacear inovar: pedi para a inteligência artificial se basear em textos de retrospectivas anteriores e produzir uma abertura crocante, que a leitora não largasse enquanto não a devorasse inteira e, principalmente, que provocasse nela uma vontade incontrolável de ouvir as canções que escolhi.
Não rolou. A tecnologia pode servir para muita coisa e já está tirando o emprego de muita gente, mas nunca sentiu nada ouvindo música nenhuma. Portanto, jamais conseguiria traduzir essa emoção em algo com o qual alguém se identifique, além de lhe faltar picardia para salvar qualquer banalidade que já escrevi achando que tinha estilo. Pena, porque eu gostaria de ter uma desculpa por estas linhas mal-tecladas.
Preciso também reconhecer que o material com o qual alimentei a ferramenta não era lá grande coisa. Basicamente, variações de como me fecho cada vez mais na minha redoma sonora, formada pela onipresença de xodós e uma ou outra novidade que consegue furar a bolha. Não por falta de curiosidade, e sim pelos sucessivos fracassos em procurar êxtase onde somente o que importa são métricas objetivas.
Sorte que, como o mistério da velha toada, música boa sempre há de pintar por aí.
13 | Lenny Kravitz, Human
Antigamente, críticos elogiavam a música dele (também) para pontuar com o público que valorizava (também) aquele corpinho. Hoje, já começam enaltecendo sua forma física, daí em diante é consequência. Vai ter sexagenário inteiraço na praia, sim!
NA HISTÓRIA
[2018] #12 | Low
12 | Tim Bernardes, Minha Bonita Primavera
Erasmo Carlos andou para que Tim Bernardes pudesse correr. A partir de um esboço caseiro, o jovelho desenvolveu um tremendo acalanto em que as fronteiras entre o tributo e o autoral se confundem de um modo muito – com trocadilho – terno.
NA HISTÓRIA
[2022] #04 | A Balada de Tim Bernardes
[2019] #02 | O Terno, Atrás/Além
[2019] #33 | O Terno, Tudo o que Eu Não Fiz
[2016] #04 | O Terno, Vamos Assumir
[2016] #14 | O Terno, Nó
11 | Chicano Batman, Crosseyed and Painless (ft Money Mark)
A bandeca californiana trata o clássico do Talking Heads com a devida reverência. Ou seja, fidelíssima ao original, dando-se ao requinte de chamar o teclado do beastie boy honorário Money Mark para reforçar o apelo à memória afetiva.
10 | Saulo Duarte, Labareda (ft Larissa Luz)
Com um pé no reggae e outro no brega amazônico, o paraense incendeia umbigos de todas as latitudes. Chama daqui, chama dali e o alvoroço está formado: o xenhenhém toma conta do recinto, em uma esfregação bárbara danada de boa.
09 | Bon Iver, Speyside
Quando ouço falar em sofrência, modão de viola e coisa e tal, saco logo essa balada dilacerante arrastada pelas águas claras de Wisconsin. “Nada realmente aconteceu como eu pensava”, lastima o bardo. Entendo perfeitamente. Segue o jogo.
08 | Hinds, Boom Boom Back (ft Beck)
As espanholas vão fundo na receita para produzir um single campeão. Tem onomatopeia, tem refrão solar e tem o frescor que o verão pede. Certo está o experiente Beck, que topou participar desde que ficasse só no embalo.
NA HISTÓRIA
[2022] #33 | Beck, Old Man
[2021] #59 | Natalie Bergman & Beck, You Got a Woman
[2019] #09 | Beck, Dark Places
[2019] #23 | Beck, Stratosphere
[2019] #53 | Beck, See Through
[2017] #31 | Beck, Colors
[2017] #65 | Beck, Can't Help Falling in Love
[2015] #19 | Beck, Dreams
[2014] #03 | Beck, Don’t Let it Go
[2014] #16 | Beck, Morning
[2008] #09 | Beck, Profanity Prayers
07 | FBC, O Retorno É a Única Lei (ft Dougnow)
Cada um sabe onde lhe apertam os carmas. O rapper mineiro transformou o dele em uma radiografia de sua trajetória, em um misto de desabafo e prestação de contas no qual tudo é transitório, menos o flow com que releva e deixa rolar.
NA HISTÓRIA
[2023] #13 | Estante de Livros (ft Don L)
[2021] #24 | FBC & Vhoor, Delírios (ft Djair Voz Cristalina)
06 | Justice, Neverender (ft Tame Impala)
Sobrevivente da invasão francesa que coloriu as pistas no início do século, a dupla volta depois de seis anos como se o melhor remédio para ressaca fosse continuar festejando. O falsete liberal arrebata, a batida irrompe e eu perco tudo.
NA HISTÓRIA
[2020] #08 | Tame Impala, Breathe Deeper
[2015] #07 | Tame Impala, Reality in Motion
[2015] #33 | Tame Impala, ’Cause I’m A Man
[2012] #03 | Tame Impala, Elephant
[2012] #10 | Tame Impala, Mind Mischief
[2010] #01 | Tame Impala, Lucidity (Pilooski Remix)
05 | Samuel Rosa, Tudo Agora
Se me perguntassem como é a estreia solo do ex-Skank, eu responderia: pop. Sem lacração nem oportunismo, apenas um artista adulto que continua oferecendo biscoitos finos à massa empanturrada pelas engronhas que engole sem mastigar.
04 | Norah Jones, Staring at the Wall
Ao adicionar um vago clima indie à elegância que traz de berço, a cantora lembra os melhores momentos do álbum Little Broken Hearts (2012), um trabalho atípico em sua discografia movida a jazz. Até a franjinha daquela época ela ressuscitou.
NA HISTÓRIA
[2020] #67 | Heartbroken, Day After
[2012] #02 | 4 Broken Hearts
03 | Manu Chao, Tantas Tierras
Entre admitir que sonhou o sonho errado ou continuar acreditando em um futuro melhor, o menestrel crava fácil a segunda opção. A diferença é que agora prefere cultivar seu próprio jardim a salvar o mundo, ainda que com a mesma infinita tristeza.
NA HISTÓRIA
[2017] #22 | Ti.Po.Ta., Moonlight Avenue
02 | Automatic, New Sensations
Um artista que você gosta fazendo uma versão de uma música que você gosta de outro artista que você gosta. E de um jeito que, depois de pronta, revela que tinha tudo a ver, embora ninguém desconfiasse que pudesse funcionar tão bem.
NA HISTÓRIA
[2022] #12 | Venus Hour
01 | Isobel Campbell, 4316
Com projetos paralelos, duetos ao lado do saudoso Mark Lanegan ou simplesmente sob sua assinatura, bastou ela se emancipar do Sebastião para a magia acontecer. O truque da vez se apresenta como uma fofura retrô sem maiores pretensões que não sejam enternecer enquanto sugere diversos significados para o número cabalístico do título. Mas não é necessário decifrar o enigma para se encantar.
NA HISTÓRIA
[2023] #54 | Belle and Sebastian, When You’re Not with me
[2019] #14 | Ant Life
[2015] #50 | Belle and Sebastian, The Party Line
PLAYLIST | a história não tem pressa
Daqui a pouco você já estará brilhando muito em 2025. Não esqueça dos óculos escuros e beba bastante água. O resto, o universo que se vire.
Adoro!!