Eu estava onde queria estar, fazendo o que queria fazer, amando e sendo amado. Morava em um apartamento bacana, ganhava bem, tirava onda. Era tudo perfeito. Mas toda vez que chegava a São Paulo depois de passar Natal e Réveillon em Florianópolis, pensava: o Frank é que é feliz.
Fiquei oito anos com essa cisma. Até que voltei a morar aqui. Reduzi orçamento, rebaixei expectativas, mudei prioridades – e continuei achando que o Frank é que era feliz, embora alegre fosse a palavra mais correta. Se estivesse tudo bem, coisa linda. Se não estivesse, ele riria dos próprios problemas e me faria rir dos meus.
Parece mentira falar dele com os verbos no passado.
O Frank era tão generoso que foi se despedindo aos poucos. A cada dia, seu estado de saúde se agravava, como se para aplacar a dor de um desfecho para o qual eu nunca me senti preparado. Por mais que os boletins médicos atestassem a piora de suas condições, jamais cogitei a hipótese de ele não sair dessa.
O medo de receber a pior notícia venceu a esperança no domingo de manhã.
Não lembro em que circunstância nos conhecemos nos corredores do Jornalismo na UFSC em 1988. A troco de quê um veterano popular como ele deu confiança para um calouro anônimo como eu é daqueles acasos que eu logo entenderia: o Frank era querido com – e por – todo mundo. O amigo que qualquer um gostaria de ter.
A gente se completava. Ele curtia ritmo, eu preferia peso. Ele conhecia o pessoal dos sindicatos, eu manjava de cultura pop. Ele desenhava, eu escrevia. Ele se atrasou de um lado, eu de outro e fizemos em dupla o trabalho de conclusão de curso. A essência do que nos tornaríamos já estava toda nos relatórios entregues à banca.
Tiramos 10 com louvor e só não nos formamos juntos porque o Frank descobriu que ainda lhe faltava uma disciplina. Aí cada um seguiu seu caminho, sempre mantendo contato muito próximo. Tanto que viramos compadres literalmente: quando nasceu minha filha, eu a mãe dela não tivemos dúvida em convidá-lo para ser padrinho dela.
Nos últimos tempos, não nos encontrávamos com frequência. Eu não esquentava com isso porque imaginava que o Frank sempre estaria presente, pronto para me abraçar. Na minha cabeça, ele se transformaria em um preto velho, sábio e eterno – e ficaríamos como aqueles dois tiozinhos do Muppet Show, detonando geral.
Se eu soubesse que não o veria mais “todo bonitão com sua consorte” após o show do BaianaSystem, teria parado para conversamos. Agora resta somente o vazio imenso que antecede a saudade iluminada pelo sorrisão dele. Foi um privilégio para mim ter feito parte, de alguma forma, da vida do Frank. É uma bênção ele fazer parte da minha, para sempre.
Que texto lindo! Não conheci o Frank... Mas, seu texto me fez lembrar da Aline. Uma grande amiga, também dos bancos de faculdade, mas que partiu muito cedo. Aline também era generosa, alegre, franca, dona de belo sorriso e grandes tiradas... Bateu uma saudade forte! Obrigada por seu texto!
Grande texto, Tomate! Do tamanho de nossa tristeza pela partida do Frank!